segunda-feira, janeiro 30, 2006

Buraco Negro. Mensagem a um amigo

Neblina

Neblina sobre a lua, sobre o céu agora azul-escuro de um lado, vermelho junto ao mar e às nuvens. Os animais recolhem a casa. A noite é discreta.

A ausência de luz transforma os lugares em esconderijos do amor e do crime.

Seta em Teerão

Um quarto de hotel. Uma seta desenhada na parede, um Al-Corão numa gaveta e um tapete. A seta apontada. Do coração à cabeça.

Orientação. Meca.

17.01.2006

O ERRO

O Erro não se corrige, não pede desculpa. O Erro não se assume como um erro, não se reconhece. Um erro assim pode acabar o seu tempo, podre e gasto, doente e louco, numa cadeira de rodas. Eis-nos perante o pior dos erros: o que, agindo deste modo, se desmente, negando-se a si próprio até confundir-se com o Mal.
Não é o único Erro da História. Vejo-o muitas vezes na televisão e nos jornais: Este chama-se Pinochet.

O Mal é o Erro em si mesmo.

Erro II

Haverá álibis para um Erro? A Torre de Babel? Apenas a Torre?

A seca














Deixaram-me um país seco. Não me resigno. A não resignação é a escrita. A voz. Se estás de acordo, substituo o pronome e digo:

- Deixaram-nos um país seco. Seco de quase tudo.

Há, por vezes, mais e melhores ideias no deserto. Segredos húmidos. Segredos férteis. Seres vivos. Oásis. Miragens.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Instantes

A lua cheia, branca no céu azul límpido. A lua em linha recta com o sol, no Inverno da tarde que anoitece. Um barco alheio ao movimento dos astros, na faina do entardecer. Uma luz laranja, finíssima, em voos dispersos de pássaros e de gaivotas.
Um comboio pesado de ferro e de gente irritada regressa aos agora-esconderijos, outrora-casas. Um silêncio de árvores, de ramos de choupos, sem vento, frios. Navios de leveza vogam para lugar nenhum, distantes. Pela janela olho a lua luminosa e penso na ignorância de não absorver coisas assim. Um melro anónimo poisado num galho de choupo abandoná-lo-á em breve, despercebido.

Outro comboio passa, feroz.

Pergunto-me: O que é o equilíbrio?

No horizonte, as nuvens escondem o sol, parecem montanhas no mar, junto de pequenos barcos de pesca e de outras nuvens, rubras da luz final. Há uma ordem natural na oposição de tudo. É o contrário, o Caos? A ausência do Nada e do Vazio que une a lua ao sol, a luz à escuridão, o silêncio ao vento, as nuvens ao céu e à agua, o que é imenso ao ínfimo e o perto ao longínquo?

O melro deixou o galho e a árvore e tudo isto é estranho a um diário, a um telejornal.

Porquê?

Inverno

Na margem, junto ao rio, sobre a relva, o passeio das gaivotas. No Inverno a noite vem mais cedo, protectora. Retiramo-nos para o lugar da calma, ao sabor da lenha queimada. As árvores, sem folhas, recuperam a seiva. Preparam a chegada da maturidade. A vinda do pensamento.

Parecem Homens.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Janeiro





Novos agasalhos ao primeiro dia. Havia o frio imenso, como a neve. O gelo dos caminhos e até o pó. As pedras, as tangerinas. Uvas e vinho. Amarei sempre esta viagem e as conversas, as gargalhadas perdidas que encontro reunidas na mata, ao fim da primeira tarde de Janeiro.