sexta-feira, janeiro 27, 2006

Instantes

A lua cheia, branca no céu azul límpido. A lua em linha recta com o sol, no Inverno da tarde que anoitece. Um barco alheio ao movimento dos astros, na faina do entardecer. Uma luz laranja, finíssima, em voos dispersos de pássaros e de gaivotas.
Um comboio pesado de ferro e de gente irritada regressa aos agora-esconderijos, outrora-casas. Um silêncio de árvores, de ramos de choupos, sem vento, frios. Navios de leveza vogam para lugar nenhum, distantes. Pela janela olho a lua luminosa e penso na ignorância de não absorver coisas assim. Um melro anónimo poisado num galho de choupo abandoná-lo-á em breve, despercebido.

Outro comboio passa, feroz.

Pergunto-me: O que é o equilíbrio?

No horizonte, as nuvens escondem o sol, parecem montanhas no mar, junto de pequenos barcos de pesca e de outras nuvens, rubras da luz final. Há uma ordem natural na oposição de tudo. É o contrário, o Caos? A ausência do Nada e do Vazio que une a lua ao sol, a luz à escuridão, o silêncio ao vento, as nuvens ao céu e à agua, o que é imenso ao ínfimo e o perto ao longínquo?

O melro deixou o galho e a árvore e tudo isto é estranho a um diário, a um telejornal.

Porquê?

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