quarta-feira, maio 31, 2006

Fúnebre

Um engarrafamento na zona velha cidade. Aí as cores das fachadas dos prédios são pálidas e carcomidas. Em baixo, gaivotas e pombos de rua. Passeios sujos de calcário. Tabernas e cafés onde humanos embriagados se escondem. Um carro fúnebre transporta a urna e os familiares de preto.
À porta, um bêbado acena. Mostra os dentes podres, diz "adeus".
Tudo muito doméstico. Habitual.

segunda-feira, maio 22, 2006

Miséria

Quando o silêncio era uma vergonha, os corpos escondiam-se dos trapos. Havia pudor. Agora, na época do ruído, os corpos saem à rua. Expostos, caem aos pedaços. Não há vergonha. Entre um e outro tempo, mais do que a pobreza, a miséria humana de sempre.

quarta-feira, maio 17, 2006

Da vida efémera, da tristeza e da ignorância

Velocidade

Passar às árvores,
não saber coisas de árvores
por não querer vê-las.

terça-feira, maio 16, 2006

Dois Haikus Urbanos

I

Cães de casino
Quentes noites e secas
E homens a ladrar.

II

Mulheres de espuma
Um circo de lantejoulas
Vaginas de armazém.

quarta-feira, maio 03, 2006

Abelhudo e abelhudos. Subjectividades

Protesto inflamado.

Um apicultor sul-coreano salta para cima de uma bandeira japonesa e de uma imagem do primeiro-ministro Junichiro Koizumi, em Seul. Ahn Sang-kyu libertou 200 mil abelhas para protestar contra o facto de o Japão reclamar a soberania sobre os ilhéus sul-coreanos de Dokdo.



Foto: Lee Jin-man/AP