sexta-feira, junho 30, 2006

Imaginário

Entro cedo na cidade antiga, a oriente deste verão. Velhas ruas inundadas de gente, a gente de sempre no burgo escasso, cerca do bazar. Oiço as vozes de uma língua estranha, e respiro um ar de paz, um ar vermelho, tórrido, amarelo. Quente de cheiros: açafrão, gengibre, soja. Um velho porto onde os barcos antigos, ancoram na água das pérolas. Arroz, chapéus de palha.
Na margem, um anciãode barba branca e longa, junto à ponte, abraça um peixe. Depois engole um pequeno dragão.

Fragmentos

Um homem caminha.
Avista o mar, as montanhas,
répteis sobre a terra.

Uma rua antiga. Uma rua de brincar. Atrás do jardim, do grande jardim das tílias fragrantes em tempo de quase-verão: uma bola, um pião, carros feitos de madeira e de rolamentos.


Jardim de tílias.
Gaiola a oriente,
das mãos e do voo.

sexta-feira, junho 16, 2006

Proletariado mediático

Viriato Soromenho Marques, a propósito do papel da televisão:

(...) "Na sua pior dimensão, a televisão é o meio preferencial da sociedade de mercado onde vivemos, uma sociedade onde não há nada que não seja mercadoria transaccionável. Nem a honra, a dignidade ou os valores. A televisão rima hoje com poder. Seja ele político ou económico.
(...) A tendência é para que os canais generalistas se transformem nume espécie de "panem et circenses" (pão e circo), modelando os gostos do que podemos designar como "proletariado mediático" (a maioria dos telespectadores) .
In O Diabo, 13 de Junho de 2006
Comentário:
Discordo. A honra não é uma mercadoria, nem a dignidade, nem os valores!!! Ainda que alguns os trasnsaccionem para iludir o "proletário dos media". Oh! Cruel conceito!!! Oh! cruel decadência! Há constatações demasiado perigosas.

Mensagem

Uma mensagem chega ao teu correio acompanhada de duas fotografias. Diz assim:

- Aqui seguem dois bons momentos:
Uns camarões asiáticos com arroz selvagem e puré de bróculos.
E a inauguração da púcaro de barro negro com uma maruca e batatinhas no forno.
Abraço e que o dia seja feliz pelo paço.

quarta-feira, junho 14, 2006

II

Olhar as nuvens
cinzas verdes e árvores
chão de água e de pó.

I

O voo do melro
pára no choupo verde
molhado, à chuva.

quarta-feira, junho 07, 2006

Da Juventude - Passagem das nuvens














Praias, cafés, apartamentos,
lugares onde, pela última vez, a pele foi tocada.

Um dia, com a mala por abrir,
um dos amantes regressará às ruínas da cidade,
e se não regressar,
num outro porto de abrigo,
sempre que uma viagem termine,
lembrar-se-á do breve vento de verão,
da janela e do quarto azul,
onde, como na tela transparente dos olhares,
havia lágrimas e alguns sorrisos.

Janeiro,1999.

Insónia

Grasnar da gaivota:
- Branco voo de estio
em noite profunda.